Capítulo 1
Alguns meses depois...
Os cabelos de Zidane estão compridos, até a altura dos seus
ombros, ele resolve mudar o seu visual para dificultar que alguma pessoa possa
reconhecê-lo em algum vilarejo.
Porém, ele está colocando algumas roupas em um saco escuro,
o qual é nomeado sua bolsa de roupas.
E enquanto ele faz isso, Murad o observa, em pé ao lado da
cama do rapaz.
-Para onde você está indo?
- o velho questiona, tentando verificar com os seus próprios olhos o
humilde volume de roupas do rapaz.
-Eu vou rodar o mundo, eu já deveria ter feito isso antes.
- ele diz decidido.
-Zidane, você precisa ter muito cuidado durante as luas
cheias.
O jovem coloca a sua última peça de roupa dentro da sacola
e diz olhando para o velho.
-Não se preocupe, eu estarei dentro de uma roda de fogo, antes da lua cheia apontar
no céu.
Ele puxa a bolsa de cima da cama e põe sobre o seu ombro
direito e profere olhando para Murad.
-Adeus, Murad.
O ancião retira um amuleto de seu próprio pescoço e põe no
pescoço do rapaz. - Fique com isso.
E Zidane olha para baixo até o amuleto em seu próprio peito
e pergunta incrédulo. -O que é isso?
-Isso é um pé de coelho, ele irá proteger você.
Zidane balança suavemente a sua cabeça enquanto um acanhado
sorriso aponta em seus lábios.
- Acredita mesmo que um pé de coelho irá me proteger?
-Ele já me trouxe muita sorte! – o velho responde,
apertando a sua barba branca.
-Talvez a sua sorte não seja compatível com a minha. -
Zidane caminha adiante. – Mas não se preocupe, eu não irei fazer pouco caso do
seu presente.
E rapidamente ele caminha pela única abertura da caverna e
vai embora. E Murad beija os seus dedos, rezando para que Zidane possa estar
livre dos perigos.
Capítulo 2
Vilarejo de Vistancia
Após alguns dias,
finalmente Zidane chega até um vilarejo, trazendo seu único saco de roupa sobre
o seu ombro direito. Algumas pessoas estão passando por ele, homens e mulheres
e eles o olham com desconfiança.
Imaginando que o rapaz é novo naquele lugar.
O jovem caminha até uma
taberna e pede uma caneca de vinho, mas antes disso, ele pede informações ao
dono da taberna.
-Eu preciso de um lugar
para dormir, você sabe onde eu posso encontrar um?
-Há alguns celeiros
abandonados no final do vilarejo, se você não se importa em dividir a sua cama
com os morcegos. – o homem de cabelos grisalho brinca.
-Oh, morcegos! Eles não
me assustam nem um pouco. – Zidane profere quase encostando os seus lábios na
caneca de vinho.
-Então, você acabou de
encontrar um lugar para dormir.
***
O dono da taberna leva
Zidane até o celeiro e o jovem caminha pelo local abandonado e diz logo depois
que os seus olhos avaliam o lugar sombrio. – Perfeito!
-Se você quiser ter mais
privacidade, peça para algum marceneiro colocar uma porta nessa passagem. – o
homem avisa-o. – Possa ser que você queira privacidade com alguma mulher.
Zidane sorri sem graça e
olha para baixo e diz.
-Não se preocupe, eu
mesmo farei isso.
***
Zidane consegue algumas
madeiras, um serrote, alguns pregos e um martelo.
E dentro de algumas horas
ele modela uma porta no tamanho exato para a abertura. E depois que ele
consegue finalmente colocar a porta no lugar, ele abre e fecha a porta ao mesmo
tempo, testando a qualidade do seu serviço.
Após algum tempo, ele se
joga sobre uma cama de encerado, e descansa o seu corpo cansado. A sua mão
direita está sobre a sua testa, enquanto ele olha para o teto escuro do celeiro
e vê alguns morcegos pendurados de cabeça para baixo.
Mas o seu pensamento não
parece se importar com aqueles bichos da noite, porque ele está preocupado com
outra coisa, ou melhor, dizendo, com outra pessoa.
-Onde você está agora?
Ele pergunta em voz
baixa, enquanto em sua mente vem à imagem da única mulher que habita em seu
coração metade homem e metade fera.
Os seus longos cabelos
escuros são removidos para trás, após Zidane beijá-la do pescoço para baixo.
Nesse momento, ele vem
fora de seus pensamentos, quando um morcego acorda e voa para fora da janela.
Capítulo 3
Na tarde, ele caminha
pelo vilarejo e olha até as portas das casas e todas elas estão marcadas com um
circulo e um x. Porém, ele já sabe o que isso representa.
E uma sensação
desconfortável invade o seu ser quando ele imagina que aqueles símbolos são
nada mais do que uma prevenção contra uma criatura perigosa que reside dentro
dele.
Então o jovem de roupas
escuras caminha em direção à taberna, empurra a porta e entra no local que está
lotado de homens.
Da porta, ele procura por
um lugar para sentar e no final da taberna ele vê uma mesa e cadeiras
desocupadas, e após isso, os seus lentos passos o levam até lá.
Onde ele se senta em uma
cadeira e descansa o seu antebraço esquerdo sobre a madeira da mesa.
O dono da taberna olha
para ele e o reconhece.
Então o senhor de cabelos grisalhos vai até o
jovem e saúda-o com um sorriso escuro e questiona.
-Passou bem à noite?
-Até que os morcegos são
bonzinhos. – Zidane diz, pensando que isso já responde a sua pergunta.
O senhor sorri outra vez.
– O que vai querer beber?
-Hoje eu só quero comer,
estou morrendo de fome! – ele bate sua mão direita sobre o seu estomago. – Eu
quero um prato de carne vermelha e três ovos mexidos.
A porta se abre e Zidane
olha em direção a ela, enquanto ele está mastigando o seu primeiro pedaço de
carne.
E neste momento, entra um
rapaz de cabelos escuros, e atrás dele vem outro sujeito de cabelos escuros
também, e assim por diante, no final, entram seis homens, um atrás do outro e
os seis homens caminham para uma mesa e eles sentam em torno dela e bebem vinho
em suas canecas.
Zidane olha para a mesa
dos rapazes e percebe que os seis têm semelhanças, por suas cores de cabelos e
também por suas cores de peles.
E quando um dos rapazes
olha em direção a Zidane, ele abaixa a sua cabeça e olha para o seu prato cheio
de carne e ele percebe que os seus ovos mexidos já estão frios. Então, ele
franzi a sua testa para o prato, imaginando que ele deveria ter comido os ovos
mexidos primeiro.
Capítulo 4
Zidane deixa a taberna e
caminha de volta pelo vilarejo, adiante ele vê algumas mulheres indo lavar
algumas roupas no rio. Elas estão segurando cestos cheios de roupas embaixo de
seus braços esquerdos.
E o seu olhar corre para
o outro lado e ele vê uma mulher de cabelos escuros, com alguns fios grisalhos
em sua franza. Há um lenço preto em sua cabeça, e ela também usa roupas escuras.
Ele imagina que ela tenha
ficado viúva recentemente.
A mulher olha atenta para
o rosto de Zidane e ele também a encara com zelo.
E a mulher de quarenta e
poucos anos, abaixa o seu rosto e entra em uma casa.
Zidane caminha com o
rosto daquela mulher em seus pensamentos, enquanto ele chuta algumas pequenas
pedras no chão.
Ele imagina que a sua mãe biológica pode ter a
idade daquela mulher e talvez a sua fisionomia também seja parecida com a dela.
Mas o pessimismo o domina
quando ele pensa que a sua mãe possa estar em outro vilarejo, ou até mesmo
morta.
Capítulo 5
Zidane olha até a lua
minguante no céu, enquanto ele está sentado em uma área plana próximo ao
vilarejo.
E ali ele se sente
solitário, pois ele não tem uma família, amigos por perto e uma companheira.
Ele arranca um pé de mato
e começa a bater levemente sobre o couro de sua bota. E o seu coração parece
mais uma vez apertado, moído e machucado, quando ele se recorda outra vez da
imagem de Amarílis.
Zidane caminha para dentro da caverna e Amarílis vem em sua
direção e o cerca com o seu corpo frágil. Ela o abraça e diz. – Eu estava com
saudades, você demorou tanto!
-Esse mês é péssimo a temporada de caça! – ele reclama e
beija os cabelos negros de sua amada.
A jovem segura à gola de sua camisa preta e a cheira com
intensidade.
-Que cheiro é esse? –Ela pergunta e se afasta dele. –Você
está cheirando a dançarina de novo.
Zidane se aproxima da jovem e a puxa para junto dele. – Não
diga bobagens!
Ela o empurra com violência e diz atordoada.
-Você está cheirando a fragrância feminina!
O jovem coloca a mão no topo de sua cabeça e esfrega o seu
couro cabeludo, enquanto o desespero o visita novamente.
-Amarílis, você precisa acreditar em mim! Eu não tenho mulher
nenhuma!
-Você não precisa mentir, as suas próprias roupas incriminam
você. - Ela diz e caminha para longe do rapaz. – E não venha atrás de mim, eu
quero ficar um pouco sozinha.
O jovem solitário acorda
de suas lembranças do passado e olha para o céu novamente e diante da lua
minguante, ele faz sua jura. – Por todas as luas que apontam no céu durante a
noite, eu ainda vou encontrar você, Amarílis! Esteja onde você estiver.